Inter Mirifica
Carlos Frederico Gurgel Calvet da Silveira Presidente do Centro Dom Vital Entre as coisas admiráveis (inter mirífica) de nossa época, estão “aqueles meios que não só por sua natureza são capazes de atingir e movimentar os indivíduos, mas as próprias multidões e a sociedade humana inteira, como a imprensa, o cinema, o rádio, a televisão e outros deste gênero, que por isto mesmo podem ser chamados com razão de Instrumentos de Comunicação Social” (Decreto do Vaticano II). O Vicariato de Comunicação Social e a Assessoria de Imprensa da Arquidiocese do Rio de Janeiro confirmam as palavras do documento conciliar. Os meios de comunicação, e também as forças políticas, foram capazes de movimentar se não multidões em número (pois muitos católicos apoiaram a primeira decisão da Arquidiocese), ao menos o “espírito de multidão”. Com efeito, parece que, com este espírito, os órgãos arquidiocesanos, sensíveis ao jornalismo e ao mundo artístico carioca, reverteram o parecer da nossa querida Arquidiocese sobre o veto ao uso da estátua do Cristo Redentor do Corcovado, na cena do filme em que um ator termina suas lamúrias ao símbolo religioso mais famoso do Rio com um gesto obsceno (uma “banana”, conforme o declarado no Globo há cerca de duas semanas). Dizia ontem a respeito do artigo de Bellotto: “diurnarius diurnarium fricat”. Que dizer dos achincalhes, da falsa doutrina, do deboche, do vilipêndio contra os católicos que pulularam no Globo com as matérias de Cora Rónai, Arnaldo Bloch, Frei Betto, Tony Bellotto, além dos próprios envolvidos no filme? Esperamos que a Comissão de Doutrina da Fé da Arquidiocese reafirme as belas mensagens da fé cristã que foram “vilipendiadas” nesses artigos. Os Evangélicos, que não têm imagens em seus templos, hão de estar ofendidos e admirados (“mirífici”) com a decisão do Vicariato e da Assessoria de Imprensa da Arquidiocese. Eles nunca imaginariam que católicos pudessem recuar assim no tema em pauta, especialmente porque estes, com certa razão, e num passado recente, clamaram contra um pastor que chutara a imagem da Virgem, a Mãe do Redentor. Lamento por ter participado com a Arquidiocese, da propaganda do filme em pauta, ainda que involuntariamente. Lamento ademais por ser um filme de José Padilha, que ainda não disse a que veio no cinema nacional, ou melhor, disse, na ordem da movimentação de verba, mas seus filmes não trazem grande interesse à vida do espírito. Contudo, guardarei na memória, do Globo de hoje, a mais consequente proposta defendida por Padilha em resposta à generosidade da nossa Arquidiocese: “Não há espaço para a censura religiosa em países civilizados, que respeitem a liberdade de expressão e a crítica aberta de ideias. Resta saber se a sociedade carioca e a prefeitura vão agir para formalizar juridicamente a ideia de que o direito sobre a imagem do Cristo pertença a todos, como deve ser o caso para monumentos desse tipo”.