outubro 12, 2015

A Casa Comum

O futuro da pós- metrópole dependerá de um projeto global e solidário, centrado na consolidação da paz e da justiça social. E o modo pelo qual lidamos com os resíduos será, sob múltiplos aspectos, parte decisiva do processo. Lembro Zygmunt Bauman: “os lixeiros são os heróis anônimos da modernidade”, quando não, mártires, como os dalits, na Índia, obrigados ao inominável, como testemunhei com meus próprios olhos na duríssima periferia de Nova Déhli. A encíclica “Laudato Si”, do Papa Francisco, traz a desigualdade social para o centro do debate ecológico, e chama a atenção justamente para os vulneráveis, que são as “pessoas descartadas”, a descoberto dos direitos fundamentais. Esse doloroso círculo vicioso, e refiro- me à degradação do homem e da natureza, de modo inseparável, tornou- se dramaticamente claro com as chuvas de 2010, que causaram o deslizamento de terra no Morro do Bumba, em Niterói, erguido sobre um antigo lixão, quando se perderam 267 vidas. Não apenas o futuro da pós- metrópole dependerá de uma nova relação com o meio ambiente, mas o futuro da própria humanidade, como lembra o filósofo Emilio Eigenheer desde os anos de 1980, quando iniciou o primeiro projeto de coleta seletiva no Brasil. Quase um profeta urbano, ao tratar com ousadia todo um conjunto de questões que pareciam antes inabordáveis, antecipando a problemática dos resíduos. Sob uma visão holística, de tudo que os atravessa e constitui, como interessante representação, forma de ser e de estar no mundo. É o que fazemos ao lidar com o lixo, que se torna ambiguamente sagrado, ao mesmo tempo bendito e maldito, puro e impuro, parcela de Deus e do diabo, um rito de passagem que se renova a cada dia.[…] Leia mais no site da Academia Brasileira  Leia outros texto de Marco Lucchesi no Clipping do CDV

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