Ivanaldo Santos
PhD em filosofia, escritor e professor universitário
ivanaldosantos@yahoo.com.br
Atualmente muito se fala em violência, em guerras e em no extermínio em massa de seres humanos. Vemos uma série de setores da sociedade denunciando e condenando esse tipo de extermínio. Entre esses setores é possível citar: organizações internacionais, a ONU, a União Europeia, associações de juristas, grupos que lutam pelos direitos humanos, setores da grande mídia e da intelectualidade universitária.
No entanto, no momento, está em pleno andamento um massacre, quase um genocídio, que não tem sido alvo dos interesses dos setores da sociedade ligados à ética, aos direitos humanos e as denúncias de uso da violência contra inocentes e contra civis. Esse massacre ocorre atualmente no Oriente Médio contra a minoria cristã que mora nessa região. O massacre de cristãos ocorre principalmente no Iraque e na Síria.
A situação dos cristãos no Oriente Médio, especialmente no Iraque e na Síria, nunca foi fácil. Trata-se de uma minoria religiosa e, muitas vezes, étnica. No entanto, até o final da década de 1990 essa minoria gozava de certa tranquilidade e, apesar de todas as discriminações, as comunidades cristãs viviam em relativa paz.
O problema se agravou a partir de 2003 com a invasão do Iraque por uma coalisão militar liderada pelos EUA. Grupos extremistas islâmicos viram essa invasão como uma forma de ajudar os cristãos e, por causa disso, lançaram uma violenta onda de perseguição e morte a essa minoria. A situação piorou com a eclosão da guerra civil na Síria em março de 2011. A guerra civil na Síria trouxe a toma uma onda de violência extremista, de fundamentalismo islâmico e de perseguição aos cristãos.
A vida dos cristãos piorou ainda mais com o anuncio da criação do chamado Estado Islâmico (EI) no dia 30/06/2014. Os extremistas ligados ao Estado Islâmico e a outras facções fundamentalistas têm sistematicamente perseguidos os cristãos. Os cristãos são expulsos de suas casas, as mulheres cristãs são estupradas, milhares de cristãos foram enforcados, fuzilados e até mesmo crucificados. Tudo isso pelo fato de essas pessoas serem cristãs. As casas dos cristãos são destruídas, suas igrejas, mosteiros, conventos e outras estruturas religiosas são destruídos, padres são assassinados e freiras e monjas estupradas, crianças cristãs estão sendo vendidas como escravas ou obrigadas a se casarem com militantes extremistas. Os líderes do Estado Islâmico deram apenas três opções para os cristãos permanecerem em suas casas na região do Iraque e da Síria, sendo elas: a conversão forçada ao Islã, a morte ou então pagarem um imposto muito elevado pelo fato de não serem seguidores de alguma doutrina radical do Islã.
Até o presente momento não se têm, com precisão, os números de quantos cristãos foram assassinados e de quantos fugiram de suas casas e comunidades. No entanto, os números preliminares são assustadores. Antes de 2003, ano da invasão ao Iraque pela coalisão militar, o Iraque tinha 1,5 milhão de cristãos. Hoje, após várias ondas e perseguição, calcula-se que existam apenas 400 mil. Na síria que, antes do início da guerra civil, tinha uma população estimada de 3 milhões de cristãos, hoje esse número caiu pela metade. Por causa desses tristes números, o massacre e expulsão dos cristãos do Iraque e da Síria poderá ser o pior genocídio que a humanidade presenciou nas últimas décadas. O genocídio dos cristãos no Oriente Médio poderá superar o genocídio de Ruanda que, em 1994, matou mais de meio milhão de membros da minoria tutsis e membros de outros grupos étnicos.
Diante dessa triste situação, é urgente que a comunidade internacional (ONU, OEA, União Europeia, EUA, etc.) se mobilize para deter a violência promovida por grupos radicais islâmicos na região do Iraque e da Síria e, ao mesmo tempo, proteger a integridade física das minorias que moram nessa região, entre essas minorias ganham destaque os cristãos. As estruturas da sociedade não podem ficar caladas, não podem se omitir diante do genocídio dos cristãos no Oriente Médio.