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Viva Guido Reni

 Não deixem de visitar o Museu Nacional de Belas Artes antes do dia 13 de março, dia em  que termina a exposição “San Sebastiano”. Dois jovens artistas bolonheses da Itália  barroca: Guercino e Guido Reni. Jovens porque suas obras parecem ter sido feitas no ano  de 2015, sem uma ruga no rosto, sem qualquer sinal desses quinhentos anos. Digamos  que houvesse apenas uma pintura no MNBA, em virtude de hipotética reforma, e que as  paredes estivessem brancas, despovoadas, e que a única imagem presente fosse apenas “O Martírio de São Sebastião”: mesmo assim a visita valeria, e muito! Eu mesmo não sei dizer quanto tempo fiquei ausente, emocionado. Meus olhos não quiseram, não puderam ver nenhum outro quadro. Como se fosse um pacto de silêncio radical e sem volta com a beleza do São Sebastião. Nada substitui esse encontro livre, direto, sem intermediações, mesmo que você o tenha visitado nos museus Capitolini de Roma. Agora é ele quem nos visita. E se encontra bem em nossa casa, profundamente barroca. Além de cumprirmos o papel de bons anfitriões, que é um dever sagrado, a visita vale, porque as imagens nos livros de arte, assim como nas redes, nem sempre dispõem de tratamento adequado e mínima fidelidade ao original. Cada vez que nos encontramos com uma obra conhecida é como apertar a mão de um amigo.[…] Leia mais no site da Academia Brasileira  Leia outros texto de Marco Lucchesi no Clipping do CDV

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Folia de Reis

Trata-se de uma festa patrocinada pela esperança, pelo diálogo solidário e por um desenho de futuro. Matérias que andam em falta em nossos dias. Dos três Magos, segundo reza uma tradição, Gaspar seria de origem indiana. E, para abordar a cultura da paz, penso em Nova Déli, cidade rica em matizes e culturas. Injusta e poluída em toda a parte, feroz e compassiva a cada esquina, ingênua e ardilosa: do hospital de passarinhos às ruas incrivelmente sujas, do raro perfume de incenso e especiaria à gama repulsiva de odores. Uma oferta quase infinita de templos atrai peregrinos de todos os quadrantes, os corpos seminus, pintados de branco, ou cobertos por trajes de cores vivas. Tudo em Déli impressiona e fascina, assusta e surpreende. Conheço de cor as prateleiras de literatura indiana da livraria Bahrisons e evoco alguns conceitos do místico sufi Nizamudin, para quem não existem barreiras entre as religiões, apenas um desejo do outro e um alto grau de compaixão. Na tumba de Nizamudin cantam os peregrinos, todas as quintas no fim da tarde, e traduzem as formas de uma radiante beleza. Lembro de alguém recitando um antigo poema de Bulleh Shah: “Não me incluo entre santos, pecadores, / E já não sou feliz nem infeliz. / E não pertenço à água nem à terra / E não pertenço ao fogo nem ao ar.”[…] Leia mais no site da Academia Brasileira  Leia outros texto de Marco Lucchesi no Clipping do CDV

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Eu Sou Beirute

Um dos lugares que mais me encantam no Rio de Janeiro é o pequeno Oriente Médio da rua da Alfândega, com seu perfume ecumênico das mais variadas especiarias, parte da cidade que visito, desde os meus oito anos. Diante de meus insistentes pedidos, meu pai me levava às lojas sírio-libanesas, onde senhores idosos e educados surgiam dentre montes de confeitos coloridos que me hipnotizavam por completo. Ia com um caderno para reunir palavras exóticas, entre tâmaras e nozes, e me intrigava a beleza dos rabiscos em árabe, a pronuncia misteriosa. Até hoje o árabe guarda um prestígio especial para mim, pois nele se misturam a cultura popular carioca, os doces coloridos e os antigos donos das lojas da Alfândega. Terminada a guerra civil, o Líbano tornou-se para mim uma extensão do Saara carioca. Eu passava as férias no coração de Beirute, entre a linha verde e a Universidade de São José. Era um país devastado, que saía cheio de feridas e incertezas de um cenário físico e moral, em mil fragmentos, embora permanecesse intacta a sua cultura plurissecular. Não esqueço quando tomei chá no terceiro piso de um prédio parcialmente em ruínas, que mal se equilibrava em sua estrutura, tal como o Líbano daquela quadra. A Síria dominava o país e seus soldados ocupavam-se da segurança nos checkpoints espalhados pela cidade. Vi a humilhação dos campos de refugiados palestinos, Sabra e Chatila, ferida de um povo que não para de sangrar. O Líbano foi para mim a escola que abriu caminho para tantos rumos, como a tão amada Síria e os meus estudos iniciais de hebraico.[…] Leia mais no site da Academia Brasileira  Leia outros texto de Marco Lucchesi no Clipping do CDV

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Terra sem mal

Parte significativa do Congresso Nacional vive uma onda de entropia e fundamentalismo. Tentou-se a redução da maioridade penal, a revogação do estatuto do desarmamento, onde se ouviram frases de hospício, como o aborto de “fetos com tendências criminosas”. Some-se a isso a iniciativa de pautas-bomba, ou mais propriamente pautas-kamikaze, contra o país, sufragadas por boa parte do PSDB, afetado de amnésia, ao perder a segunda e terceira consoantes da sigla, de braços dados com o DEM moribundo e o esquizofrênico PMDB, que age e se intitula como situação e oposição, ao mesmo tempo, segundo interesses imediatos, e sem qualquer constrangimento, como se não houvesse opinião púbica no país, a que se associam galhardamente os partidos teocráticos. A permanência do presidente da Câmara é um retrato eloquente do momento que vivemos. Mas o país real existe e conta com uma riqueza mil vezes maior que a camada do pré-sal, mais ampla que as reservas cambiais, orçadas em 317 milhões de dólares, maior, bem maior que todas as commodities reunidas, como a cultura da soja e a extração do minério de ferro. Refiro-me ao patrimônio imaterial das 274 línguas praticadas no Brasil, por quase um milhão de índios, distribuídos em 305 etnias, segundo o censo de 2010. Essa realidade fundamental permanece, no entanto, invisível, como se fosse uma nuvem-fantasma, uma incógnita sem função, uma teimosa presença do passado, que põe freio ao agronegócio e sua insaciável expansão da fronteira agrícola. […] Leia mais no site da Academia Brasileira  Leia outros texto de Marco Lucchesi no Clipping do CDV

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A Casa Comum

O futuro da pós- metrópole dependerá de um projeto global e solidário, centrado na consolidação da paz e da justiça social. E o modo pelo qual lidamos com os resíduos será, sob múltiplos aspectos, parte decisiva do processo. Lembro Zygmunt Bauman: “os lixeiros são os heróis anônimos da modernidade”, quando não, mártires, como os dalits, na Índia, obrigados ao inominável, como testemunhei com meus próprios olhos na duríssima periferia de Nova Déhli. A encíclica “Laudato Si”, do Papa Francisco, traz a desigualdade social para o centro do debate ecológico, e chama a atenção justamente para os vulneráveis, que são as “pessoas descartadas”, a descoberto dos direitos fundamentais. Esse doloroso círculo vicioso, e refiro- me à degradação do homem e da natureza, de modo inseparável, tornou- se dramaticamente claro com as chuvas de 2010, que causaram o deslizamento de terra no Morro do Bumba, em Niterói, erguido sobre um antigo lixão, quando se perderam 267 vidas. Não apenas o futuro da pós- metrópole dependerá de uma nova relação com o meio ambiente, mas o futuro da própria humanidade, como lembra o filósofo Emilio Eigenheer desde os anos de 1980, quando iniciou o primeiro projeto de coleta seletiva no Brasil. Quase um profeta urbano, ao tratar com ousadia todo um conjunto de questões que pareciam antes inabordáveis, antecipando a problemática dos resíduos. Sob uma visão holística, de tudo que os atravessa e constitui, como interessante representação, forma de ser e de estar no mundo. É o que fazemos ao lidar com o lixo, que se torna ambiguamente sagrado, ao mesmo tempo bendito e maldito, puro e impuro, parcela de Deus e do diabo, um rito de passagem que se renova a cada dia.[…] Leia mais no site da Academia Brasileira  Leia outros texto de Marco Lucchesi no Clipping do CDV

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Clipping

A vocação do Centro Dom Vital é dialogar com a sociedade. Aqui você fica sabendo do que acontece pelo mundo e o que pode servir de estímulo para a atuação do CDV. Os textos dos membros nos veículos de imprensa ou reportagens que se refiram a eles ou ao CDV vão ser reunidos nesse espaço. * * *  03/02/2016 – O Globo – Viva Guido Reni: “Não deixem de visitar o Museu Nacional de Belas Artes  antes do dia 13 de março, dia em que termina a exposição “San Sebastiano”. Dois jovens artistas     bolonheses da Itália barroca: Guercino e Guido Reni. Jovens porque suas obras parecem ter sido feitas no ano de 2015, sem uma ruga no rosto, sem qualquer sinal desses quinhentos anos. Digamos que houvesse apenas uma pintura no MNBA, em virtude de hipotética reforma, e que as paredes estivessem brancas, despovoadas, e que a única imagem presente fosse apenas “O Martírio de São Sebastião”: mesmo assim a visita valeria, e muito!” 06/01/2016 – O Globo – Folia de Reis: “Trata-se de uma festa patrocinada pela esperança, pelo diálogo solidário e por um desenho de futuro. Matérias que andam em falta em nossos dias.” […] 02/12/2015 – O Globo – Eu sou Beirute: “Um dos lugares que mais me encantam no Rio de Janeiro é o pequeno Oriente Médio da Rua da Alfândega, com seu perfume ecumênico das mais variadas especiarias, parte da cidade que visito, desde os meus 8 anos. Diante de meus insistentes pedidos, meu pai me levava às lojas sírio-libanesas, onde senhores idosos e educados surgiam dentre montes de confeitos coloridos que me hipnotizavam por completo.” 04/11/2015 – O Globo – Terra sem mal: “Parte significativa do Congresso Nacional vive uma onda de entropia e fundamentalismo. Tentou-se a redução da maioridade penal, a revogação do estatuto do desarmamento, onde se ouviram frases de hospício, como o aborto de “fetos com tendências criminosas.” 07/10/2015 – O Globo – A Casa Comum: “O futuro da pós- metrópole dependerá de um projeto global e solidário, centrado na consolidação da paz e da justiça social. E o modo pelo qual lidamos com os resíduos será, sob múltiplos aspectos, parte decisiva do processo. Lembro Zygmunt Bauman: “os lixeiros são os heróis anônimos da modernidade”, quando não, mártires, como os dalits, na Índia, obrigados ao inominável, como testemunhei com meus próprios olhos na duríssima periferia de Nova Déhli.” 02/09/2015 – O Globo – Dante 750: “Tenham cuidado certos líderes religiosos iracundos, sem falar da lavagem de dinheiro, porque viverão no pântano da própria raiva”. A obra de Dante permanece viva, com uma notável atualidade. O poeta florentino tornou-se, ao mesmo tempo, autor e personagem de uma obra que navega no imaginário de línguas e povos, como se fosse um fantasma vivo, no palácio da luminosa metáfora que é a “Divina comédia”. 05/08/2015 – O Globo – Nise da Silveira: “Nise da Silveira foi um dos maiores nomes da ciência no Brasil. Não só porque mudou a face obscura da psiquiatria, e com raro destemor, mas também porque jamais se deixou contaminar pelo vírus positivista que assola parte de nossa universidade. E como a doutora Nise ficou imune? Primeiro pela grande cultura e sensibilidade de sua formação, sem nunca perder o horizonte ético e humanista, que é o que falta a não poucos neurocientistas deslumbrados, ou aos sempre presentes behavioristas, inclusive com novos rótulos”. 01/07/2015 – O Globo – Gulliver no Brasil: “Vivemos um tempo de refluxo, um deserto de utopias, cenário em que perdemos a capacidade de sonhar ou de propor uma forte revisão da Agenda Brasil, resultado de amplas zonas de consenso. A depender de certos debates, o Brasil encolheu a olhos vistos, movido por uma intolerância política e um sectarismo religioso que fizeram o país perder altitude. E quanto mais apostarmos no ruído, ou no insulto, quanto mais diminuirmos a qualidade ética dos debates e quanto mais nos afastarmos de parâmetros decididamente republicanos, não cessará a crise política, onde se multiplicam interesses de segunda ordem que não enfrentam com lealdade os desafios da hora presente”. 06/06/2015 – O Globo – O Califado Digital: “EI conquista cidades e assume tarefas tipicamente urbanas. Erram os que definem o Estado Islâmico (EI) como se fosse um movimento de pura barbárie e violência, força retrógrada, sem inteligência e apenas autodestrutiva. Não deixa de ser um pouco disso tudo, é bem verdade, embora seja algo mais denso, articulado e perigoso”. 06/05/2015 – O Globo – Cultura do Ódio: “Ninguém se iluda com a redução para os 16 anos. Em nome de um país, que deveria ser mãe e não madrasta de seus próprios filhos, em nome de uma república moderna, que não rouba o futuro de meninos e meninas, sem escola e sem família, em nome dos avanços do Estatuto da Criança e do Adolescente, não podemos incorrer no erro de aprovar a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, de acordo com a fatídica PEC 171/93”. 01/04/2015 – O Globo – A FEB e os canibais: “Memória da Segunda Guerra não pode terminar. Há quase 70 anos terminava o flagelo da Segunda Guerra, com um número impensável de crimes contra a humanidade. Basta recorrer aos livros de Primo Levi ou de Imre Kertész para alcançar o horror dos campos de extermínio”. 04/03/2015 – O Globo – A cidade curinga: “O Rio vive, uma vez mais, um novo redesenho. São Sebastião do Rio de Janeiro é uma das cidades mais inquietas e inabordáveis do mundo. Basta nomeá-la para que prontamente se dissolva e fuja por entre os dedos. Não é como tantas cidades, que vestem folgadamente o corpo de sua inteira jurisdição. A geografia carioca desconhece limites. Não há tecido capaz de cobrir sua nudez. Trata-se menos de uma cidade do que um manancial de metáforas, uma coincidência de opostos. O Rio é uma enorme federação de desejos, atraída pelo futuro, e a ele devotada, sem nenhum sinal de resistência”.  23/02/2015 – Gazeta do Povo – Duas solidões contemporâneas: “Há muitos

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Associação de leigos católicos, dedicada, desde 1922, à difusão da fé e à evangelização da cultura no Brasil: revista A Ordem, palestras, cursos, etc.