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Saudação do Presidente na Cerimônia de Reinauguração da Sede

  Cerimônia de Reinauguração da Sede 13 de março de 2015 Saudação do Presidente ao Senhor Cardeal e ao público Eminentíssimo Sr. Cardeal, Dom Orani João Tempesta, Exmo. Srs. Bispos, Revmos. Abades, Revmo. Sr. Vigário Episcopal para as Comunicações, Revmos. Reitores de Seminários, Revmos. Sacerdotes, Religiosos e Seminaristas, Srs. Vice-Presidentes e Diretores do Centro Dom Vital, Srs. Sócios e Amigos do Centro Dom Vital, Quis a Providência que a festa de reinauguração desta sede ocorresse em plena Quaresma. Santo Agostinho abre os nossos domingos quaresmais dizendo-nos que “enquanto peregrinos neste mundo, não podemos estar livres das tentações, pois é através delas que se realiza o nosso progresso e ninguém pode conhecer-se a si mesmo sem ter sido tentado. Ninguém pode vencer sem ter combatido, nem pode combater se não tiver inimigos e tentações”. Esta breve passagem de Agostinho nos propõe três questões: quem somos? Que combates travamos? Obteremos vitória? Se nos conhecemos pelas tentações, que podemos dizer de nós, instituição com história quase secular? Recorramos às tentações do passado: elas ensinam-nos hoje que a verdade se conhece também pela simpatia. Conhecendo nossa história, queremos nos comprometer com esta exigência da cultura contemporânea, que é congregar as pessoas por uma espécie de “lealdade ampliada”, pelos sentimentos de confiança. Poderíamos exprimir este espírito novo parafraseando o nosso Maritain: simpatizar para unir, ou seja, trata-se de unir também pelo afeto. Quais os combates do presente? Mantermo-nos fiéis à nossa identidade, o que exige de nós uma atualização. Queremos fazê-lo seguindo as orientações do Vaticano II, de modo especial buscar a verdade e levá-la aos outros pelo diálogo, pelo diálogo ecumênico e inter-religioso. Também Santo Tomás de Aquino foi mestre do diálogo, para o qual é necessária a docilidade: “A docilidade dispõe a receber a reta opinião de outro”, Suma Teológica II-II, q. 49 a. 4 c. A terceira questão versa sobre o nosso futuro. Conseguiremos a vitória? Para não cairmos na tentação responder a esta pergunta com nossas próprias ideias, interpretemos os sinais: a presença de Vossa Eminência é sinal de reconciliação em relação a qualquer ressentimento do passado e que, portanto, estamos livres para ouvir nossos mestres e conquistar outros. Mas sobre o futuro mesmo, só podemos pedir com o Cristo, tentado no deserto, o que diz o salmo 85, e que é a vocação do próprio Centro Dom Vital: “Concedei-me um sinal que me prove a verdade do vosso amor. O inimigo verá que me destes ajuda e consolo”. Carlos Frederico Calvet da Silveira

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A cidade curinga

O Rio vive, uma vez mais, um novo redesenho São Sebastião do Rio de Janeiro é uma das cidades mais inquietas e inabordáveis do mundo. Basta nomeá-la para que prontamente se dissolva e fuja por entre os dedos. Não é como tantas cidades, que vestem folgadamente o corpo de sua inteira jurisdição. A geografia carioca desconhece limites. Não há tecido capaz de cobrir sua nudez. Trata-se menos de uma cidade do que um manancial de metáforas, uma coincidência de opostos. O Rio é uma enorme federação de desejos, atraída pelo futuro, e a ele devotada, sem nenhum sinal de resistência. Adicta do futuro, em vista do qual não mede esforços para apressá-lo, é ao mesmo tempo saudosa de um passado incerto, de que se percebe exilada, ou amnésica, pelo tanto que apagou com seu apetite demolidor. Uma Roma em guerra com a barbárie da especulação. Machado de Assis resume a vertigem de que sofremos cariocas: “Mudaram-me a cidade ou mudaram-me para outra” […] Leia mais no site de O Globo Leia outros texto de Marco Lucchesi no Clipping do CDV

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Duas Solidões Contemporâneas

O cidadão de bem realmente precisa possuir fortaleza incomum para não relativizar os princípios éticos e para resistir às crises de consciência Há muitos modos de se estar só: apesar da onipresença tecnológica, que invade os leitos e os templos, as salas de cinema e as casas de saúde, o homem sente-se cada vez mais só. Não é difícil encontrar solitários nas grandes metrópoles. O século 21 é capaz de produzir uma nova contradição humana, que é parir, na época da conectividade absoluta, o homem desconectado de tudo. Mas essa solidão é voluntária. Há uma outra mais cruel e nociva. O Brasil testemunha o surgimento de uma solidão específica: a solidão do homem honesto. Diferentemente da solidão do anacoreta cibernético, que escolhe alhear-se do mundo à sua volta, esse exílio é imposto aos homens por seus coetâneos. Trata-se do sentimento de que, diante das constantes notícias de roubalheiras e escândalos, os cidadãos não deveriam cumprir as normas éticas e morais. Pensa-se: se os líderes do povo não se ocupam do bem e da justiça, não será o homem comum a lutar para cumprir os princípios morais. E assim nasce o homem solitário, que se sente abandonado no cumprimento da lei e na busca do bem humano. […] Leia mais no site de Gazeta do Povo Leia outros texto de Robson Oliveira no Clipping do CDV

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A liberdade cega dos pichadores

Não é proibido proibir. No entanto, há proibições que são suavizadas em vista de um objetivo alheio ao bem comum. É o caso de um crime inventado no Brasil: a pichação. Para alguns, um fenômeno distinto das expressões gráficas que acontecem mundo afora, chamadas de grafite. A distinção entre pichação e grafite aparece em lei sancionada pela presidente Dilma em 2011. De fato, essa lei suaviza e altera lei anterior, de 1998, e prevê pena de três meses a um ano para quem “pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano”. E descriminaliza, em parágrafo distinto, o ato de grafitar nos seguintes termos: “Não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística, desde que consentida…” O texto da lei continua expondo aqueles que devem dar o consentimento para tal manifestação: proprietários, órgãos públicos etc. O que chamamos de pichação teve origem em São Paulo, embora o grafite tenha história que remonta à Antiguidade. Foi paradoxalmente a partir do século 20, com o advento da mídia moderna, que esse meio de protesto ganhou força e até certo respaldo social. […] Leia mais no site de Gazeta do Povo Leia outros texto de Carlos Frederico Gurgel no Clipping do CDV

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Os seios de Minerva

Aprovação do Marco Civil da Internet é o primeiro passo de uma agenda positiva Por que tanta demora no debate sobre a democracia digital? Precisamos avançar com o Marco Civil da Internet, aprofundá-lo num quadro mais preciso, completando certas lacunas e dispositivos. A democracia digital (e-democracy) não se resume a mero instrumento ou linha auxiliar do processo político. Trata-se de uma compreensão abrangente da democracia, um redesenho vital, com partidos qualificados, ao mesmo tempo em que promove coletivos formados por minorias ativas, que se fazem ouvir dentro de uma (antes impensável) vasta capilaridade. A democracia digital dilui o precipício entre democracia direta e representativa, centro e periferia, asfalto e comunidade. O ideal da democracia grega era o de ser composta por cidadãos que tivessem bebido o leite dos mesmos seios, limitada, portanto, a pequenas comunidades, onde todos se reconhecem. A democracia digital não implica uma contradição, mas um complemento: a reivindicação da pequena escala, composta agora de inumeráveis seios, para enriquecer a grande escala, não mais abstrata ou diminuta, mas povoada pela humanidade concreta. Uma democracia especular, onde se alcançam muitos rostos, olhares, demandas, endereços. Ninguém é proprietário da democracia. Somos apenas inquilinos. A recente aprovação do Marco Civil da Internet é o primeiro passo de uma agenda positiva. Pode-se começar com sondagens de opinião delimitadas a parcelas de decisão na governança, ao mesmo tempo em que se realizem plebiscitos, de alto ou baixo impacto, com o aumento das formas de controle e transparência de agências, ministérios e autarquias. Pequenos passos, como o de tornar os serviços de atenção à cidadania mais eficazes, com agendamentos à distância e dispositivos outros, que poupem tempo e energia. Faz-se necessário criar condições favoráveis numa escala de serviços para avançar de modo seguro […] Leia mais no site de O Globo Leia outros texto de Marco Lucchesi no Clipping do CDV

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Precisamos condenar o terrorismo

Ivanaldo Santos Filósofo, escritor e conferencista E-mail: ivanaldosantos@yahoo.com.br Diante da brutal sequência de atentados terroristas ocorridos na França, que ficou conhecido como Atentado de Charlie Hebdo (foram 17 mortos), que chocou o mundo, é preciso constatar que existe um grande número de grupos terroristas atuando em escala quase planetária, entre os quais cita-se, por exemplo, Al-Quaeda, Boko Haram, Estado Islâmico e a Frente al-Nusra. O problema é que esses grupos são bem treinados, às vezes são mais bem treinados do que as tropas regulares de muitos países, tem muitas e diversificadas fontes de financiamentos e ao longo dos últimos 20 anos vem promovendo atentados em vários países do mundo. São grupos profundamente cruéis que atacam, preferencialmente, civis, melhores, idosos e crianças. Esses grupos promovem, entre outras barbaridades, o estupro de mulheres, matam mulheres por meio do apedrejamento, vedem mulheres para serem escravas sexuais, escravizam homens e crianças, fuzilam, sem julgamento, qualquer pessoa que considerem por infiéis, destroem o patrimônio público e cultural, crucifixam e decapitam pessoas de outras religiões, especialmente os cristãos. Em alguns setores da sociedade os grupos terroristas são vistos como movimentos sociais ou algo semelhante. No entanto, deve-se ter em mente que terrorismo não é reivindicação social. Em grande medida, o terror islâmico pretende implantar, em escala mundial, um modelo de sociedade fechado, muito semelhante à sociedade tribal do século VII d.C., a sociedade que deu origem ao Islã. O mundo avançou, mas, em certo sentido, o Islã continua preso ao século VII d.C. Não se trata de condenar o Islã em si, mas de não aceitar essa tentativa, feita pelos grupos terroristas, de fazer a humanidade voltar e, ao mesmo tempo, ficar presa ao mundo tribal e brutal do século VII d.C. É preciso deixar claro que grupo terrorista não são movimentos e nem reivindicação social. Daqui por diante o mundo (agências de noticiais, artistas, líderes políticos, etc) precisam denunciar, de forma mais enérgica, toda forma e todo ato terrorista. Essa denuncia tem que ser muito clara e enérgica. Vale recordar que muitos intelectuais exaltados, artistas e jornalistas liberais fizeram varias e graves acusações contra o Papa Bento XVI e a outros líderes cristãos só porque essas lideranças terem exposto a doutrina cristã sobre o casamento, a família e, por conseguinte, a condenação a união homossexual e ao aborto. No entanto, essas mesmas pessoas costumam ficar em silencio diante de ataques terroristas. Por que essa posição ambígua e contraditória? Essa posição tem que acabar. As mesmas vozes duras contra os líderes e a doutrina cristã precisam se levantar para combater o terrorismo. Temso que denunciar o atentado de Charlie Hebdo, mas também temos que denunciar o grupo terrorista Boko Haram matou 2 mil pessoas, principalmente mulheres e crianças, na cidade de Baga, na Nigéria, e tantos outros atentados terríveis praticados por grupos terroristas. O terrorismo é um mal que se não for condenado poderá conduzir a humanidade viver uma situação de caos semelhante ao vivido durante a queda do Império Romano. Onde estão os grupos feministas que não condenam o terrorismo por matarem, estuprarem e até mesmo venderem mulheres como escravas sexuais? Onde estão os grupos de proteção da infância e da adolescência, que ficam omissos diante do fato de grupos terroristas matarem ou venderem crianças como escravas? Com relação ao Brasil, o governo brasileiro precisa dizer claramente, a sua população e ao mundo, que rejeita o terrorismo e que todo ato de terror é um ato contra a humanidade. Isso é necessário porque o governo do Brasil tem tido uma posição muito fraca, até mesmo condescendente, com o terrorismo. Basta ver que em 2014, na reunião anual da assembleia geral da ONU, a atual presidente do Brasil, a Sra. Dilma Rousseff, falou em dialogar com um dos grupos terroristas mais radicais da atualidade, o Estado Islâmico. No entanto, a mesma presidente não falou nas vítimas dos atos terríveis desse grupo terrorista e nem muito menos de como amenizar a destruição, o medo e o terror causado por esse grupo. Por causa dessa posição ambígua, quase de aprovação ao terrorismo, que o governo do Brasil precisa dizer claramente ao mundo que rejeita, com força, o terrorismo.

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Homens de Boa Vontade

Homens de Boa Vontade Carlos Frederico Gurgel Calvet da Silveira Presidente do Centro Dom Vital Professor Titular Universidade Católica de Petrópolis O papa João XXIII, em sua brilhante encíclica Pacem in Terris, de 1963, proclamava: “Como representante – ainda que indigno – daquele que o anúncio profético chamou o “Príncipe da Paz” (cf. Is 9,6), julgamos nosso dever consagrar os nossos pensamentos, preocupações e energias à consolidação deste bem comum. Mas a paz permanece palavra vazia de sentido, se não se funda na ordem que, com confiante esperança, esboçamos nesta nossa carta encíclica: ordem fundada na verdade, construída segundo a justiça, alimentada e consumada na caridade, realizada sob os auspícios da liberdade” (n. 166). O papa Francisco tem sido aclamado no mundo inteiro como o maior líder espiritual (e até político!) de nossa época. Contudo, algumas de suas declarações têm gerado perplexidade em católicos e não católicos, crentes e não crentes, críticas veiculadas preponderantemente pela mídia leiga. Efetivamente, talvez esteja aí uma das razões dessas críticas: a falta de familiaridade não só com a doutrina cristã, mas sobretudo com a consciência que as religiões e também a Igreja Católica têm de si mesmas. Esmurrar o semelhante: teria o papa proposto algo do gênero? Claro que não! E estão certos aqueles que lembram a passagem evangélica de apresentar a outra face ao inimigo. Na verdade, o papa Francisco ousou pôr-se no lugar das pessoas que se sentem ofendidas. É nesta ordem de coisas que podemos e devemos entender este comentário que muitos consideraram infeliz. Trata-se da busca de entendimento das reações das pessoas, no caso que se possam sentir ofendidas. Esta é uma atitude autenticamente cristã: compreender o semelhante. Ultrapassar esta fronteira na interpretação das palavras de Francisco revela má vontade hermenêutica. E também a analogia não foi feita para justificar a violência do atentado de Paris, previamente condenado pelo papa. Gostaria de me deter, à guisa de ilustração do que vimos lendo na mídia ultimamente, em algumas passagens do inapropriado artigo “Je suis demagogo” de autoria de Guilherme Fiúza, que apareceu no Globo, no dia 17/01. Vê-se, com facilidade que também a doutrina católica, e não somente o pontífice, tem sido objeto de crítica superficial. Mas comecemos com o papa: “Talvez uma das figuras mais representativas deste momento esquisito seja o Papa Francisco. Sua Santidade tem provavelmente uma espécie de João Santana ao pé do ouvido, para soprar-lhe as últimas tendências do mercado. Foi assim que o líder máximo da Igreja Católica mergulhou na causa gay.” Nos parágrafos seguintes, Fiúza dedica-se a ridicularizar a doutrina católica sobre a sexualidade, sem nuança alguma. Ao contrário, resvalando para o deboche, como se pode ver na conclusão dos mesmos parágrafos: “Ou seja, o Papa bonzinho está jogando para a arquibancada”. Na mesma área de reflexão, porém em ocasião mais recente, o papa foi criticado quando defendeu o planejamento familiar, que no âmbito católico é bem conhecido não somente com as restrições retratadas frequentemente pela mídia, mas também nos valores positivos que ora foram explicitados pelo papa que buscou uma linguagem mais compreensível, embora mantendo a mesma doutrina da Igreja, explicitada na encíclica Humanae Vitae de Paulo VI, 1968 (permitam-me, uma vez mais, a longa citação): “É de prever que estes ensinamentos não serão, talvez, acolhidos por todos facilmente: são muitas as vozes, amplificadas pelos meios modernos de propaganda, que estão em contraste com a da Igreja. A bem dizer a verdade, esta não se surpreende de ser, à semelhança do seu divino fundador, “objeto de contradição”; mas, nem por isso ela deixa de proclamar, com humilde firmeza, a lei moral toda, tanto a natural como a evangélica. A Igreja não foi a autora dessa lei e não pode portanto ser árbitra da mesma; mas, somente depositária e intérprete, sem nunca poder declarar lícito aquilo que o não é, pela sua íntima e imutável oposição ao verdadeiro bem comum do homem. Ao defender a moral conjugal na sua integridade, a Igreja sabe que está contribuindo para a instauração de uma civilização verdadeiramente humana; ela compromete o homem para que este não abdique da própria responsabilidade, para submeter-se aos meios da técnica; mais, ela defende com isso a dignidade dos cônjuges” (n. 18). A Igreja tem formado pacientemente as famílias para uma paternidade responsável e tem lutado, no Brasil e mundo afora, em favor da saúde familiar e do bem estar das crianças menos favorecidas. Lembremo-nos de Irmã Dulce, lembremo-nos da Pastoral da Criança, de D. Zilda Arns, além-fronteiras. Voltemos, contudo, a outro tema importante do artigo de Fiúza. Continua o articulista, entrando na discussão do atentado ao Charlie Hebdo: “Depois do atentado em Paris, a reunião no departamento de marketing do Vaticano deve ter fervido. Francisco tinha ali várias causas bondosas para escolher. Demorou um pouco, mas saiu a decisão: o Papa defendeu o Islã contra as ofensas dos chargistas franceses — uma posição candidamente desastrosa”. E embora o papa tenha defendido a religião islâmica e não os terroristas, o articulista continua no tom de deboche, sem propor qualquer reflexão mais relevante: “O marqueteiro de Francisco deve ter feito o cálculo certeiro: nada mais surpreendente, exótico e progressista do que um líder católico defendendo o Islamismo. E ainda soltou a pérola: “Liberdade de expressão tem limite”. Não, Francisco. Não tem. Seria como declarar que democracia tem limite. O que deve ser limitado — e já é, pela lei — é a expressão criminosa ou lesiva, não a liberdade. Está vendo como é dura a vida do populista? Esse negócio de ficar levantando bandeiras não é fácil, a gente acaba se atrapalhando mesmo.” Parece-me que o articulista defende, como o papa, a liberdade de expressão. Contudo, é importante entender que nem todos pensam, nem as nossas leis admitem uma liberdade de expressão qualquer, especialmente quando se trata de respeito às minorias. Certamente há hierarquia de valores aqui e alhures e a liberdade de expressão como valor ocidental supõe a compreensão de outras hierarquias de valor não ocidentais. E esta é a grande dificuldade que

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Efemeropiria

Efemeropiria Carlos Frederico Gurgel Calvet da Silveira Presidente do Centro Dom Vital Professor Titular Universidade Católica de Petrópolis Nesta manhã, ao buscar, no Laudelino Freire, o vocábulo ‘efúgio’, para compará-lo com a semântica do Latim effugium, deparei-me com a efemeropiria. Minha mente levou-me de súbito a imagens a que este termo poderia ser aplicado metaforicamente. Lembrei-me das febres das massas. Todas passageiras. Lembrei-me da morte de Tancredo: as massas derretendo-se pelos muros das cidades, do país. Lembrei-me da febre que foi Collor em 1989. E tantos outros eventos políticos em nosso país. E como não me viriam à mente as últimas eleições? Especialmente porque no Globo de hoje uma reportagem a respeito da campanha da Presidente Dilma dava conta dos mecanismos usados por seu escudeiro eleitoral e propagandista. As frases de efeito por ele criadas na ocasião, revelam-se hoje para todos, a meros três meses o evento cívico nacional, promessas efêmeras. Não havia princípios duradouros que as fundassem, nem sinceridade mínima, ainda que efêmera, que respaldasse os que, na ocasião, vieram a público defendê-las? A febre continuou na internet, mesmo depois de a vencedora dar início a certo mutismo e posterior enclausuramento. Outras febres me vêm à memória. A dos aparelhos eletrônicos. Esta ainda das mais agitadas. Aparece à mesa de refeições, em família, entre amigos e inimigos, na Igreja, no consultório, no elevador, no Theatro Municipal, nos cinemas do Rio e do Brasil em geral. Os celulares são febricitantes. É uma febre aparentada com o falatório cotidiano, com a preguiça agitada dos que não conseguem mais encarar o sentido da existência. A febre do Charlie Hebdo não pode faltar, a mais recente febre no panorama internacional. Aliás, este panorama tem um rol, diria, infindável, se este termo não parecesse contraditório com ideia de efemeridade. Em todo o caso, tivemos a Lady Diana, Obama, tivemos as Torres Gêmeas, e assim por diante. Alguns fiéis da Igreja Católica não fogem a isso, atingidos pelas febres já citadas, aderiram ainda a outras. Que dizer do Rito Tridentino, que parece novamente entrar no esquecimento, mas que provocara, em tão pouco tempo, um desfile de casulas “violão”, manípulos, rendas – estas, aliás, dentro da febre chinesa do R$ 1,99, isto é, confeccionada com material barato numa época em que a renda barroca ficou inacessível -, e latim deficiente? Ademais, alguns, muitas vezes, sem conhecimento do sentido da língua e daqueles gestos e sinais que a própria história consumiu. E parece que já vai consumindo, neste breve espaço de tempo, as novas velhas alfaias. O mesmo se diga do falatório dos católicos nas mídias, que chegam a fabricar falsas notícias com o fito de atrair leitores, ainda que em seguida lhes declarem o engodo. Contudo, a perseverança, a constância e a serenidade é que são o patrimônio da cultura cristã. São o antídoto da efemeropiria. E a tradição cristã é mestra nestas virtudes. Com o Laudelino, não fiquei convencido de que ‘efúgio’, em Português, tivesse mantido o mesmo sentido de effugium em Latim, que quer dizer “fuga, evasão; passagem, saída”. No vernáculo, ‘efúgio’ significaria: subterfúgio; refúgio, fugida. O Houaiss, mais abundante nos sinônimos, diz que ‘efúgio’ pode significar; “meio de escapar, evitar alguma coisa; escusa, desvio, subterfúgio” – e ainda: – “algo que ampara, protege; refúgio, abrigo”. Enfim, embora não totalmente sinônimos, pertencem ao mesmo campo semântico latino. Seria, então, a febre efêmera um mero subterfúgio existencial? Uma doença das massas ou da massificação?

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Associação de leigos católicos, dedicada, desde 1922, à difusão da fé e à evangelização da cultura no Brasil: revista A Ordem, palestras, cursos, etc.