Credo dos Ricos
Robson Oliveira
Se Deus está na larva e no frango,
por que tanta grita e espanto,
quando a uns falta tudo
e a outros sobra tanto?
Se Deus é na goiaba e no verme,
Não se entende o enojo do imberbe
quando no fruto mordido
só do bicho metade se percebe.
Se Deus é arte e ignorância,
se culinária e carne putrefata,
por que do pobre se faz defesa
com artigos, greve e passeata?
Se Deus está na cobertura ou na palafita,
e se entre estas não há diferença,
explique essa dor profunda e incontida
ao ouvir o lamento famélico de uma criança.
Se ser pobre ou rico é desígnio divino,
se animal ou humano dá tudo no mesmo:
Aos desvalidos mesmo acaba traindo,
ó apologeta de ricos e bem-nascidos.
Mas Homem é mais que mundo, ó amigo!
Mais que sarampo, mais que furúnculo, mais que umbigo!
É amor à vida, amor à terra, amor à planta;
mas também amor que nega, amor que sofre, amor que canta.
Se Deus está em tudo e é Amor,
amor e tudo não é Deus, ó meu ‘sinhô’,
não está do mesmo modo, dizia vovô:
na panela, no carvão e no fogo o “calô”.