As notícias são desalentadoras: agente de trânsito é multada por cumprir a lei e autuar membro do Judiciário em franco ato ilegal; contratos com grandes empresas são mantidos, a despeito dos prejuízos ao governo; bilhões do erário são roubados enquanto manobras políticas pretendem proteger os responsáveis. E o homem comum se pergunta: por que manter-me honesto enquanto a hipocrisia, a corrupção e a insensatez campeiam a céu aberto?
Segundo Auguste Comte, “o homem propriamente não existe, nem pode ser mais existente que a humanidade”. De acordo com o pai do positivismo, a ação concreta de cada indivíduo (assim como decisões governamentais) considera tão-somente as demandas do tecido social onde surge. Para ele, o indivíduo é uma peça na engrenagem e suas necessidades devem ser secundadas aos imperativos da comunidade. Assim nasce o coletivismo social, que anula o indivíduo e enfraquece seu poder transformador.
Entretanto, em tempos de “empoderamento” feminino, resta óbvio que não se deve concordar com Comte e sua tese do determinismo social. Antes, é necessário ser mais inclusivo e levar a termo um “empoderamento” do indivíduo. Importa que o cidadão comum retome as rédeas da sociedade e não determine suas ações por orientações genéricas de um ente social amorfo. A liberdade individual deve ser reafirmada e a inspiração positivista dificulta a responsabilidade pessoal. Sob esse estigma comteano, os indivíduos perdem a força de transformação e costumam transferir para seus representantes a tarefa de realizar as mudanças de que precisam. E, se eles não as efetivam, o cidadão sente-se incapaz de pôr em marcha as modificações de que necessita. Contudo, esse sentimento de impotência não o torna dócil.
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